quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Corujas Raras - Americana - SP

Matéria divulgada no Jornal O Liberal, no dia 30/06/2013.

Grupo encontra Corujas raras na RPT

Moradores de Americana e Santa Bárbara percorrem o país para fotografar aves e descobrem espécies preciosas na região
Percorrer o Brasil e registrar imagens de aves. Esse é o objetivo de cinco moradores da RPT (Região do Polo Têxtil) que resolveram participar do Grifoo (Grupo de Interessados em Fotografia e Observação Ornitológica), composto por fotógrafos profissionais e amadores que buscam pássaros em florestas de todo o país.


Foto: Gustavo Pinto
 
Reconhecida por ter o rosto branco em forma de coração, suindara é uma das espécies raras encontradas na região
A participação de americanenses e barbarenses, no entanto, contribuiu para divulgar a imagem das cidades, que passaram a ser chamadas como Terra das Corujas.


O apelido dado aos municípios se deve ao aparecimento de espécies consideradas raras, que se tornaram atração para membros do grupo. Em pouco mais de um ano, quando a primeira imagem foi feita, mais de 100 fotógrafos passaram pelas cidades para tentar registrar a coruja da espécie mocho-dos-banhados, que prefere ambientes próximos a riachos ou rios, além da orelhuda e suindara, reconhecida por ter o rosto branco em forma de coração.

Para encontrar as aves em Americana, o grupo passou pelo Jardim Botânico, Parque Ecológico e praias dos Namorados e Azul, mas foi entre as árvores dos parques Novo Mundo e Universitário que as espécies mais incomuns foram localizadas. Em Santa Bárbara d'Oeste, por sua vez, as áreas mais visitadas são as matas em volta da Usina Santa Bárbara, Parque dos Ipês, Clube da Romi e região do Caiubi.

"Resolvi participar do grupo há três anos, mas só em 2012 conseguimos encontrar três espécies diferentes. Um especialista da área que atua há dez anos com pesquisa de campo viu as corujas pela primeira vez em Americana. Agora estamos acompanhando o crescimento e a evolução das aves", declarou Gustavo Gomes Pinto, metalúrgico e membro do Grifoo. "A grande novidade é que elas foram encontradas em uma distância de 300 metros, que também é um fenômeno raro".

Uma página eletrônica é utilizada pelos fotógrafos para divulgar as imagens registradas. O banco de dados do site aponta que pelo menos 930 fotos já foram tiradas em Americana e mais de 1,1 mil registros em Santa Bárbara d'Oeste. Conhecida como Wikiaves, a página conta com informações sobre as espécies encontradas, além das imagens mais comentadas e melhores avaliadas da semana.

Depois de se afastar do trabalho em 2011, Pinto decidiu aumentar as viagens para fotografar os pássaros. Desde que foi criado, o grupo da RPT viajou para Bragança Paulista, Ubatuba, Itatiaia (RJ), Gonçalves (MG) e Dourado (SP). "Nós procuramos na internet as regiões que têm mata e fazemos a viagem. Agora meu sonho é ir para o Pantanal", contou. "Mesmo na época que trabalhava, eu saía na sexta e voltava no domingo. Fazemos de tudo para conseguir encontrar as aves, principalmente corujas e espécies ameaçadas".

Devastação de habitat natural provoca migração
O aparecimento de aves e animais silvestres nos centros urbanos é motivo de estudos por especialistas na área. Duas das justificativas encontradas nas pesquisas são a perda de áreas naturais e o aumento na zona urbana dos municípios, que obrigam os animais a procurarem novos ambientes para sobreviverem.

De acordo com Maria Eliana Navega Gonçalves, zoóloga e professora de Ciências Biológicas na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), espécies encontradas na RPT são comuns na América do Norte, Chile, Cordilheira dos Andes e Rio Grande do Sul. "Existe relatos de alguns aparecimentos também nas áreas urbanas, mas sempre porque as aves encontraram uma nova área, que não seja o habitat natural".

As corujas encontradas em Americana costumam se adaptar a ambientes próximo à água. "A espécie mocho-dos-banhados, como o próprio nome diz, se adapta a lugares com rios ou riachos para conseguir alimento, mesmo se esse ambiente estiver dentro do centro urbano", explicou Maria Eliana.

A redução de áreas naturais, ainda segunda a professora, geralmente é causada por desmatamento, plantação, principalmente para cultivo de cana-de-açúcar, e construção, sejam imóveis ou empreendimentos. Para Maria Eliana, o aparecimento das aves em bairros recentes de Americana se deve ao desenvolvimento da região. "A construção de prédios provoca o preparo na terra, que aumenta o aparecimento de insetos e lagartos, principal alimento das corujas. Como essa ave tem a visão aguçada, ela vê o bairro como um local com fartura de comida", declarou. "Sempre que o ambiente natural é modificado, os animais também precisam se adaptar e isso aconteceu também em Americana e região".

Fonte: O Liberal